No passado fim de semana fomos conhecer Piódão. Esta aldeia, classificada como "imóvel de interesse público", localizada na Serra do Açôr, concelho de Arganil (distrito de Coimbra) foi um dos destinos mais badalados nos últimos meses. Depois de a pandemia ter mudado os planos a “meio mundo”, Piódão passou a ser um dos locais mais visitados em Portugal... Pelo menos, nas redes sociais, não faltavam fotografias de pessoas que tinham ido conhecer a “aldeia presépio”! De tanto ouvirmos falar, a curiosidade começou a surgir e também quisemos ir visitar este lugar.
Prestes a chegar a Piódão já vislumbramos de uma vista fantástica. Ao longe parece que estamos a ver uma cidade em miniatura perdida no meio da serra. A principal marca desta aldeia são as casinhas de xisto, um material abundante na região. Mas é impossível não notar que as portas e janelas têm tonalidades azuladas, o que dá um ar interessante e peculiar ao lugar.
Assim que chegamos ao largo da aldeia, o local onde chegam todos os visitantes, há algo que nos desperta logo a atenção: a Igreja Matriz. Pintada de branco e com alguns detalhes em azul, esta igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição parece que está aparentemente descontextualizada devido às suas cores.
Depois de uma vista de olhos à Igreja, começamos a explorar as ruas e ruelas. A aldeia não é muito grande pelo que dá perfeitamente para conhecer os seus encantos a caminhar sem nenhum plano predefinido.
Não deixe de reparar no busto do Cónego Manuel Fernandes Nogueira (falecido em 1944, fundou em 1886 um colégio no largo de Piódão que preparava alunos para a entrada no Seminário. Pelo colégio, destruído aquando das obras de beneficiação do largo, em 1906, passaram mais de 200 rapazes. Muitos alunos seguiram cursos superiores, cerca de trinta ordenaram-se padres). Conheça também a Capela de S.Pedro, localizada no cimo da povoação e a Fonte dos Algares, toda construída em xisto, trata-se de um pequeno chafariz.
Se gostar de apreciar a gastronomia local visite o restaurante “A Fontinha”. Aberto desde 1989 e remodelado em 2012, serve a típica comida regional, de onde destacamos a Chanfana Assada no forno a Lenha, bucho de porco recheado, trutas grelhadas entre outros.
Se tiver tempo e oportunidade, é interessante incluir na viagem as aldeias vizinhas. Nós demos um saltinho a Foz d’Égua, uma minúscula aldeia que tem também casinhas de xisto, uma praia fluvial e uma ponte suspensa (que estava com passagem interdita).
Curiosidades:
Estivemos à conversa com um habitante da aldeia e trocámos algumas impressões. Entre outras coisas ficámos a saber que é para Arganil ou Oliveira do Hospital que os moradores vão sempre que precisam de bens ou serviços.
O residente disse-nos que antigamente nevava muito em Piódão e os telhados ficavam cobertos de neve durante longos períodos. Hoje em dia, como consequência das alterações climáticas, neva menos frequentemente. Além disso a neve facilmente derrete…
Piódão tem atualmente 62 residentes. Destes, 12 não são naturais da aldeia.
Se vir cruzes nas portas não estranhe. Antigamente eram colocadas para afastar o mal. As cruzes invocam Santa Bárbara que protege dos trovões, um fenómeno natural que antes era visto como “um castigo” de Deus … Há quem diga que as cruzes estão associadas ao número de pessoas que já morreram em determinada casa, mas os moradores afirmam que essa é uma explicação inventada por turistas e não corresponde à realidade.
Há quem diga que Piódão faz parte de uma das histórias de amor mais famosas do nosso país. Dada a sua localização “escondida” na serra, noutros tempos foi o abrigo de um dos assassinos de D. Inês de Castro, que fugia à fúria de D. Pedro I (séc. XIV).
Não pode deixar de experimentar os licores da região. Licor de castanha, mirtilos, tília, frutos vermelhos e pétalas... a variedade é imensa e vale a pena experimentar enquanto faz uma pausa.